Oralidade e Fabulação no Cinema Documentário

In Oralidade em Tempo e Espaço: Colóquio Internacional Paul Zumthor. Educ/Fapesp, São Paulo, 1999, pp. 173-182

Diferentemente do filme ficcional no filme documental o depoimento/testemunho é construído no ato da fala. O depoimento “ao vivo” ganha uma outra dimensão na sua veracidade e ao mesmo tempo em seu falseamento. O entrevistado muitas vezes para conquistar o seu interlocutor começa a fabular a sua própria história. Além disso, a presença da câmera faz com que a fala ansiosa oscile entre o real e o ficcional de forma tão sutil e dinâmica que se torna imperceptível até mesmo para o próprio entrevistado. O trânsito entre a “verdade” e a “fabulação”, a oralidade e o cinema, a memória e o passado são algumas das reflexões que discuto neste texto.

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Clichês interculturais segundo Gilles Deleuze

In Revista Intermídias, vol. 8, 2007

Terminal (2004) Steven Spielberg

O clichê sendo a força-motora da representação clássica cinematográfica, se torna no cinema intercultural um dos principais pontos de reflexão e de questionamento. Rever situações históricas, re-avaliar preconceitos sociais, restabelecer identidades culturais e denunciar arbitrariedades imagéticas sociais são algumas das tarefas e temas que cineastas interculturais se propõem à levar para as telas e transformam o cinema num terreno de discussão e de reavaliação social e histórica. O cinema intercultural é, sobretudo um fenômeno recente na história do cinema, concebido entre dois regimes culturais distintos e adota certos procedimentos estilísticos que Gilles Deleuze caracteriza como do cinema moderno: a ligação deliberadamente fraca entre uma ação e outra do roteiro, a situação dispersa, a forma- balada, a denúncia de complôs, e principalmente, a consciência dos clichês. O cinema intercultural quer chamar a atenção do espectador para a autenticidade e originalidade de seu ponto de vista. Como o cinema intercultural consegue ultrapassar os clichês interculturais e não repetir as mesmas imagens-ícones?

A força do cinema clássico está na redenção do clichê. Ele permite ao espectador de compreender e entrar facilmente na trama, se identificar com o herói e, se deixar levar pela força narrativa da história. Entender o conceito de cinema clássico é fundamental para analisarmos as narrativas do cinema intercultural e de exílio, pois estes fazem parte essencialmente do cinema moderno, e que este, segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, se define por estar em constante conflito e em oposição à narrativa clássica cinematográfica. O cinema intercultural e de exílio se caracterizam por se situarem entre dois mundos diferentes e por vezes opostos. Seus personagens, e em muitos casos seus cineastas, vivem entre uma cultura e outra, entre uma terra e outra, e sua narrativa se constrói nas intermitências, nos interstícios e nas confluências que caracterizam a experiência de viver o deslocamento e habitar as fronteiras.

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O exílio e a morte simbólica no cinema e na literatura popular dos homens que viraram suco

In Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, Universidade Beira Interior, Covilhã, Portugal, 2005

O homem que virou suco (1979) João Batista de Andrade

O filme, O Homem Que Virou Suco, narra a história de dois migrantes nordestinos em São Paulo: Deraldo José da Silva, paraibano, poeta popular de cordel e José Severino da Silva, cearense, torneiro mecânico. Ambos idênticos na fisionomia e interpretados no filme pelo mesmo ator (José Dumont). Severino premiado como operário padrão, no dia da entrega do prêmio mata seu chefe com várias facadas na barriga e foge. Confundido com o assassino Severino, Deraldo é perseguido pela polícia. Sem casa e sem documentos Deraldo abandona seu trabalho de vendedor de cordel na praça e trilha o caminho de todo migrante em São Paulo…

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